quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Como conseguir ser um Grande ... FILHO



Uma garota na faixa dos vinte anos de idade morre estupidamente sem que se saiba bulhufas de como isso se sucedeu.
Então, todo condoído, o católico da paróquia diz assim pra mãe da garota, em estado íntimo que é só pedaços: “Ela era tão devota, e tão boazinha, imagine que nunca esquecia de suas obrigações com a paróquia (lençinho nas lagriminhas) ... sem a caridade dela nem sei como vamos dar de comer àqueles rapazes que precisam tanto levar uma cruz dura pela Palávra”.
A mãe tocada diante do tamanho do amor da filha, e incerta de quanto ela suportava esse amor, diz encharcada por tanta inclinação divina: “Nem pensar, agora que ela está com Jesus não só o dízimo pequenino e tanto que ela dava de si vai faltar, eu mesma vou levar tudinho lá; não é por isso que o amor de Jesus vai esfriar; mas o meu menino, pede pra Jesus deixar ele um pouquinho”.
O pastor batista sentindo também a perda de tão prestimosa ovelha, em confraternização com os pastores do macedo, desabafa choroso: “Isso é que era ovelha valiosa pro reimno, um exemplo no rebanho. Que família! Temos que converter essa mãe pro verdadeiro caminho”.
Nas proximidades, com ouvido bem aberto aos acontecimentos o pastor assembleiano pula da cadeira da outra casa tão pobremente conseguida de frente pro mar, e aconselha com incrível bondade: “Isso tem que ser feito cum sabedoria. Quem tem mais lá?”.
Um novato abelhudo se mete alopradamente: “Dizem que o irmão dela tá regado na grana. O muleque faz estrípitíse, canta, é chefe de torcida do time da cidade ...”
Mas o conselho de outras denominações mais cheio do 'ispíritu' toma o assunto com autoridade: “ Não tão vendo que não se pode deixar uma garota assim chegá tão desamparada no céu, sozinha sem o pai?”.
Um outro abençoadíssimo “preletor” tomado pelo espíritu, lembra que um irmão que chegou da África precisa de cuidados, e que ele é a chave pra fechar e abrir a sorte daquela casa com os 'plânus di jéósuis pra vida deles); porque o garoto “perdido” e sem a irmã também vai precisar de pai.
Nesse instante até o Crack sentado no trono se comove e derrama seu podrer Tremendo, de tanto ispíritu de revelação e bondade santa. E eles todos, a irmandade toda ecumenicamente dá graças, e se esbanjam de felizes de tanta graça.
Na esquina da venda, uma irmã discretíssima depois de espreitar pela fresta da cortina o ir-e-vir dos outros, corre pra “falá” com uma “mirnistra” da Palávra, e com a mãozinha no peito tão sentida, confessa: “Ai que era uma moça tão orbidiênti” ...” Dela se aproveitava tudo”.
E a “mirnistra” logo insta à ingênua: “”Ih! Minha filha ... Disso aí digo Xiii ... Aquela lá não era lá essas coisas não; não vê?!  Ficou toda emburradinha só por que o namorado da minha filha tinha uma tarazinha por ela. E quê adiantô! Tá lá agora estendidinha”.
Uma assídua fiel seguidora-batedora-de-perna-porta-e-portão chega rápido na prosa e recatada põe o dedinho com dois toquinhos no biquinho e diz: “Cala-te boca.”
O molecão-arrasta-cachorro-pra-fazer-cocô-no-parquinho muito puto e vingado, espraia pros amigos na balada-gôspi: “Pô! Aquela vagaba dava pra todo mundo, só por que eu quis agarrá ela na escada, ficou toda putinha cumigo. Quase me furdí maluco!”
Os papa-biscoito-venu-bíguibródi, da ganguinha de fode-mal, se alopram em côro: “Pôrra, qualé a tua Mané?! Por que não falô cum a rênti! Si tu farlássi, nós tudo pergávamu ela. Armávamu um bóti e ela tinha qui dá pá todo mundo!”
Um nada, um estranho, que notava esses estrumes ganindo, passa no roseiral, apanha uma flor, vai e coloca na mesa da sala de aula onde a garota estudava. Talvez soubesse que algumas balas não eram tão perdidas assim, e soubesse que alguns acontecimentos eram mesmo da “vontade soberana do deus”, que tanto faz “bem” aos seus “amados” à sua imagem, educados à sua semelhança.

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