Uma garota na faixa dos vinte anos de idade morre estupidamente sem que se saiba bulhufas de como isso se sucedeu.
Então, todo condoído, o católico da paróquia diz assim pra mãe da garota, em estado íntimo que é só pedaços: “Ela era tão devota, e tão boazinha, imagine que nunca esquecia de suas obrigações com a paróquia (lençinho nas lagriminhas) ... sem a caridade dela nem sei como vamos dar de comer àqueles rapazes que precisam tanto levar uma cruz dura pela Palávra”.
A mãe tocada diante do tamanho do amor da filha, e incerta de quanto ela suportava esse amor, diz encharcada por tanta inclinação divina: “Nem pensar, agora que ela está com Jesus não só o dízimo pequenino e tanto que ela dava de si vai faltar, eu mesma vou levar tudinho lá; não é por isso que o amor de Jesus vai esfriar; mas o meu menino, pede pra Jesus deixar ele um pouquinho”.
O pastor batista sentindo também a perda de tão prestimosa ovelha, em confraternização com os pastores do macedo, desabafa choroso: “Isso é que era ovelha valiosa pro reimno, um exemplo no rebanho. Que família! Temos que converter essa mãe pro verdadeiro caminho”.
Nas proximidades, com ouvido bem aberto aos acontecimentos o pastor assembleiano pula da cadeira da outra casa tão pobremente conseguida de frente pro mar, e aconselha com incrível bondade: “Isso tem que ser feito cum sabedoria. Quem tem mais lá?”.
Um novato abelhudo se mete alopradamente: “Dizem que o irmão dela tá regado na grana. O muleque faz estrípitíse, canta, é chefe de torcida do time da cidade ...”
Mas o conselho de outras denominações mais cheio do 'ispíritu' toma o assunto com autoridade: “ Não tão vendo que não se pode deixar uma garota assim chegá tão desamparada no céu, sozinha sem o pai?”.
Um outro abençoadíssimo “preletor” tomado pelo espíritu, lembra que um irmão que chegou da África precisa de cuidados, e que ele é a chave pra fechar e abrir a sorte daquela casa com os 'plânus di jéósuis pra vida deles); porque o garoto “perdido” e sem a irmã também vai precisar de pai.
Nesse instante até o Crack sentado no trono se comove e derrama seu podrer Tremendo, de tanto ispíritu de revelação e bondade santa. E eles todos, a irmandade toda ecumenicamente dá graças, e se esbanjam de felizes de tanta graça.
Na esquina da venda, uma irmã discretíssima depois de espreitar pela fresta da cortina o ir-e-vir dos outros, corre pra “falá” com uma “mirnistra” da Palávra, e com a mãozinha no peito tão sentida, confessa: “Ai que era uma moça tão orbidiênti” ...” Dela se aproveitava tudo”.
E a “mirnistra” logo insta à ingênua: “”Ih! Minha filha ... Disso aí digo Xiii ... Aquela lá não era lá essas coisas não; não vê?! Ficou toda emburradinha só por que o namorado da minha filha tinha uma tarazinha por ela. E quê adiantô! Tá lá agora estendidinha”.
Uma assídua fiel seguidora-batedora-de-perna-porta-e-portão chega rápido na prosa e recatada põe o dedinho com dois toquinhos no biquinho e diz: “Cala-te boca.”
O molecão-arrasta-cachorro-pra-fazer-cocô-no-parquinho muito puto e vingado, espraia pros amigos na balada-gôspi: “Pô! Aquela vagaba dava pra todo mundo, só por que eu quis agarrá ela na escada, ficou toda putinha cumigo. Quase me furdí maluco!”
Os papa-biscoito-venu-bíguibródi, da ganguinha de fode-mal, se alopram em côro: “Pôrra, qualé a tua Mané?! Por que não falô cum a rênti! Si tu farlássi, nós tudo pergávamu ela. Armávamu um bóti e ela tinha qui dá pá todo mundo!”
Um nada, um estranho, que notava esses estrumes ganindo, passa no roseiral, apanha uma flor, vai e coloca na mesa da sala de aula onde a garota estudava. Talvez soubesse que algumas balas não eram tão perdidas assim, e soubesse que alguns acontecimentos eram mesmo da “vontade soberana do deus”, que tanto faz “bem” aos seus “amados” à sua imagem, educados à sua semelhança.
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